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Foto do escritorCola na História

Haiti

Em meio a grave crise política que culminou com o impeachment de Collor, ocorreu em São Paulo em 2 de outubro de 1992, o MASSACRE DO CARANDIRU.


Uma ação da PM paulista, liderada pelo coronel PM Ubiratan Guimarâes, que resultou no assassinato de 111 presos. Sob o governo de Antônio Fleury Filho do PMDB, o coronel foi autorizado a invadir o presídio para “acalmar” uma rebelião iniciada no pavilhão 9 do presídio.


Um ano depois, em 1993, Caetano e Gilberto Gil gravaram o disco TROPICÁLIA 2, celebrando 25 anos do lançamento do primeiro disco do movimento em 1968. Haiti é uma das faixas. Sempre atualizados com a cena, o rap trata em seus versos, diversos problemas brasileiros como o racismo estrutural, desigualdade e violências são retratados e a crítica ao massacre do Carandiru não poderia estar fora.


Quer ouvir o silêncio sorridente de São Paulo diante da chacina? Então aumenta o som. É Gil é Caetano, é o cola na história.

Haiti - Gil e Caetano


Quando você for convidado pra subir no adro da fundação Casa de Jorge Amado Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos Dando porrada na nuca de malandros pretos De ladrões mulatos e outros quase brancos Tratados como pretos Só pra mostrar aos outros quase pretos (E são quase todos pretos) Como é que pretos, pobres e mulatos E quase brancos, quase pretos de tão pobres são tratados E não importa se olhos do mundo inteiro Possam estar por um momento voltados para o largo Onde os escravos eram castigados E hoje um batuque um batuque Com a pureza de meninos uniformizados de escola secundária Em dia de parada E a grandeza épica de um povo em formação Nos atrai, nos deslumbra e estimula Não importa nada Nem o traço do sobrado Nem a lente do fantástico Nem o disco de Paul Simon Ninguém, ninguém é cidadão Se você for a festa do pelô, e se você não for

Pense no Haiti Reze pelo Haiti O Haiti é aqui O Haiti não é aqui

E na TV se você vir um deputado em pânico Mal dissimulado Diante de qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer, qualquer Plano de educação que pareça fácil Que pareça fácil e rápido E vá representar uma ameaça de democratização Do ensino do primeiro grau E se esse mesmo deputado defender a adoção Da pena capital E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto E nenhum no marginal E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco Brilhante de lixo Do Leblon E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo Diante da chacina 111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos E quando você for dar uma volta no Caribe E quando for trepar sem camisinha E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba

Pense no Haiti Reze pelo Haiti O Haiti é aqui O Haiti não é aqui

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